Quem não Dava a Vida por um Amor?
O
essencial é amar os outros. Pelo amor a uma só pessoa pode amar-se toda
a humanidade. Vive-se bem sem trabalhar, sem dormir, sem comer.
Passa-se bem sem amigos, sem transportes, sem cafés. É horrível, mas
uma pessoa vai andando.
Apresentam-se e arranjam-se sempre alternativas. É fácil.
Mas sem amor e sem amar, o homem deixa-se desproteger e a vida acaba por matar.
Philip Larkin era um poeta pessimista. Disse que a única coisa que
ia sobreviver a nós era o amor. O amor. Vive-se sem paixão, sem
correspondência, sem resposta. Passa-se sem uma amante, sem uma casa,
sem uma cama. É verdade, sim senhores.
Sem um amor não vive ninguém. Pode ser um amor sem razão, sem
morada, sem nome sequer. Mas tem de ser um amor. Não tem de ser lindo,
impossível, inaugural. Apenas tem de ser verdadeiro.
O amor é um abandono porque abdicamos, de quem vamos atrás. Saímos
com ele. Atiramo-nos. Retraímo-nos. Mas não há nada a fazer: deixamo-lo
ir. Mai tarde ou mais cedo, passamos para lá do dia a dia, para longe
de onde estávamos. Para consolar, mandar vir, tentar perceber, voltar
atrás.
O amor é que fica quando o coração está cansado. Quando o
pensamento está exausto e os sentidos se deixam adormecer, o amor
acorda para se apanhar. O amor é uma coisa que vai contra nós. É uma
armadilha. No meio do sono, acorda. No meio do trabalho, lembra-se de
se espreguiçar. O amor é uma das nossas almas. É a nossa ligação aos
outros. Não se pode exterminar. Quem não dava a vida por um amor? Quem
não tem um amor inseguro e incerto, lindo de morrer: de quem queira,
até ao fim da vida, cuidar e fugir, fugir e cuidar?
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