sábado, 7 de fevereiro de 2015

Eternamente 
Ela era do tipo que se apaixonava fácil, por simples olhares, sorrisos e gentilezas. Aceitava qualquer convite para o amor. Vestia-se com a roupa mais bonita — e comprava até algumas novas — e entrava naquele jogo, como se fosse novamente a primeira vez. E ela se lembrava de todas as vezes. Era daquelas que têm o registro de cada suspiro, cada beijo, cada passo dado. E gostava disso. Gostava de viver apaixonada.
Até que, um dia, ela se encontrou com ele. Que também andava pela vida assim. Apaixonadamente. E não era só nisso que eles se pareciam. Eles também se assemelhavam em seus gostos. Nos sonhos. Nas manias. E foi irresistível. Aquela parte narcisista que todo mundo tem, se manifestou neles com toda força. Encontrar nós mesmos em uma outra pessoa é uma coisa que não pode ser desperdiçada. E eles agarraram a chance e se agarraram com tanta força que pareciam mesmo um só.
Mas a vida ensina que tudo que vem de surpresa, também vai de surpresa. E foi um susto. De repente, eles já não existiam mais na vida um do outro. Uma dessas fatalidades, em forma de mal-entendido, os separou, deixando novamente a solidão tomando conta daquela parte que todo mundo tem que está sempre esperando para ser preenchida. E eles não se tocaram mais. E não se falaram mais. E tentaram nem se lembrar mais, para que a dor que vinha junto com aquela lembrança parasse de machucar tanto.
E, assim, passaram-se anos. Eles continuaram vivendo, cada um de um lado, tentando se apaixonar tanto quanto antes. Mas algo estava diferente. Ela não entendia o motivo de não conseguir regular a intensidade das paixões, não sabia o porquê de certos amores acontecerem com mais força do que outros. Não seria tão mais fácil poder escolher gostar menos ou mais de determinada pessoa? Mas não era possível. Ela bem que tentou, mas nunca encontrou alguém que fizesse seu coração bater tão alto (ela podia ouvir mesmo tampando os ouvidos) quanto aquele seu antigo amor.
Um dia, ela admitiu que já era hora de deixar o orgulho ir embora e passar a limpo aquela história, para poder guardá-la em alguma gaveta e voltar a escrever a sua vida de lápis colorido. Escreveu para ele uma carta:
“Você me tratava como se eu fosse a princesa de um tempo que não existe mais. Como se eu fosse única nesse mundo. Você fazia com que eu me sentisse especial por se sentir tão especial de estar comigo. Você me tratava como se eu fosse a sua primeira e última namorada. E era exatamente por isso que eu me sentia eterna. Como se a nossa história fosse encantada e não corresse o risco de um dia acabar.”
O que seria apenas um desabafo, acabou sendo um sinal. Ao terminar de escrever, ela conseguiu entender o porquê daquela paixão ter marcado tanto. Ela não foi feita para ter fim. Ao contrário dos livros com finais felizes, os amores mais bonitos são aqueles que têm finais trágicos. E ela aceitou isso. Poderia agora viver outras histórias, ter outras experiências, voltar a se apaixonar. Ela entendeu que “o amor da nossa vida” não precisa ser o último. Ele pode ser o primeiro. Ou o do meio. É o amor que nunca vai se apagar. Que só de pensar, por mais que o tempo tenha passado, continua acelerando o ritmo cardíaco. É aquele amor que continua acontecendo pra sempre. Ainda que seja na lembrança.
                                                                              Paula Pimenta

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